Publicado por: Painel Internacional | março 28, 2011

Líbia: OTAN assume comando

Guerra na Líbia: OTAN assume comando

No domingo 27 de março, após um complexo processo decisório interno, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) decidiu assumir o comando de todas as operações militares em cumprimento à Resolução 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. De “Odisséia do Amanhecer”, começa então a operação “Unified Protector” (de onde eles tiram esses nomes?!)

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Após a relutância dos Estados Unidos em assumirem a liderança das operações conduzidas na Líbia, a OTAN decidiu assumí-la oficialmente em 27 de março.

Apesar dos comentários especialisados veiculados pela grande imprensa, isso não é um reflexo cabal do profético “declínio do império americano” ou da debilidade da política externa do Presidente Barack Obama para o Maghreb. Pelo contrário, o comando da OTAN vem a calhar para garantir a legitimidade multilateral da operação, sendo que os Estados Unidos ainda fornecerão boa parte do apoio logístico e operacional no teatro líbio. Dessa forma, os EUA evitam o desgaste político imediato de serem vistos como interventores em mais um país muçulmano após a experiência no Iraque e no Afeganistão. Ao não servir como ponta de lança, evita-se, ainda, que o país seja tragado para uma operação cujo desfecho será complexo, tanto do ponto de vista militar como político. Após dez longos anos no Oriente Médio e na Ásia Central, os EUA não contam nem com o apoio doméstico nem com um orçamento flexível para mobilizar homens e material para um conflito cujo final ainda está longe de estar claro.

A alternativa Atlanticista e a consequente diluição do processo decisório entre os 28 membros da organização é, igualmente, um freio à visão britânica e francesa de que a solução definitiva seria a mudança do regime kadhafista (talvez até estejam tecnicamente certos mas, legalmente falando, esse objetivo não está contemplado nos termos da Resolução 1973). Os recentes comentários do Secretário-Geral Gen.Anders Fogh Rasmussen são um indício de que as regras de engajamento das forças aliadas serão limitadas à manutenção da zona de exclusão aérea e de ataques pontuais em solo. De acordo com a organização, embarcações da OTAN não entrarão nas águas territoriais do país e não estão previstas forças terrestres (pelo menos por enquanto).

No entanto, é vital que a alternativa para a Líbia não seja similar à de Kosovo, onde a OTAN também foi levada a comandar a intervenção, sendo posteriormente tragada para o fundo de um exaustivo processo de pacificação (KFOR em 1999) após Bill Clinton ter recusado a comprometer forças norte-americanas para uma ofensiva terrestre. Igualmente como o caso iugoslávo, uma ofensiva aérea e bombardeamento remoto na Líbia são insuficientes para garantir os resultados políticos pretendidos a longo prazo. Será que a OTAN tem claro para si mesma o que definirá oficialmente o sucesso e o término de suas operações na Líbia? E se Kadhafi refutar um cessar-fogo concreto? E se uma zona de exclusão aérea não for suficiente para impedir os ataques (afinal de contas, a proporção dos ataques aéreos kadhafistas foram estimados em menos de 10% do total de ataques perpetrados contras as forças rebeldes)? E se forem precisos forças terrestres ou pacificadoras, a OTAN estaria disposta a liderar? Caso contrário, quem lideraria?

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Aproveito a oportunidade para compartilhar algumas informações encontradas nos principais veículos de imprensa e institutos de pesquisa sobre a Guerra na Líbia. Abaixo segue um mapa contendo os principais pontos de operação. Em verde, encontram-se os redutos das posições de Kadhafi; em azul, os redutos ocupados majoritariamente pelas forças rebeldes; em laranja, os locais onde ocorreram os combates mais recentes entre as forças (fonte: BBC).

Recomendo, também, o acesso ao site do IISS – Institute of International Strategic Studies. Sendo um dos mais influentes think-tanks em matéria de defesa, o IISS vem acompanhando de perto às mobilizações no teatro líbio e apresenta uma tabela contendo um inventário dos ativos da coalização devidamente atualizados (Clique Aqui! para acessar).  Adianto um mapa editado pelo think-tank e que pode ser igualmente visualizado pelo link.


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